Guia Prático: Como Regular a Injeção por Posição do Zero e Ser Mestre na Técnica
A injeção por posição é uma das técnicas mais avançadas e precisas no controle do processo de moldagem por injeção. Muito além do controle por tempo ou pressão, ela permite que o regulador defina com exatidão o momento ideal de troca entre as fases de injeção e recalque, garantindo peças mais estáveis, com menor variação dimensional e excelente acabamento. Neste artigo, vamos explorar como dividir corretamente o curso do fuso em zonas técnicas e determinar a posição ideal de comutação, utilizando critérios práticos e técnicos diretamente aplicáveis no chão de fábrica.
1. Entenda o que é o curso do fuso
O curso do fuso é o deslocamento que o fuso realiza do ponto totalmente recuado até o ponto máximo de avanço durante a injeção. Ele é medido em milímetros (mm) nas máquinas com encoder linear ou em percentual (%) nas máquinas que exibem a posição como fração do curso total.
Por exemplo, se ao dosar o material o fuso recua até 100 mm e, após a injeção, chega a 0 mm, então o curso total disponível é de 100 mm.
Esse valor é a base para você fracionar e controlar a injeção com precisão.
2. Injete normalmente e identifique a posição onde a cavidade se enche
Antes de definir qualquer fração ou zona, você precisa saber em qual posição do fuso a peça está completamente preenchida.
Faça o seguinte:
- Regule a máquina para injetar com tempo de injeção fixo ou pressão constante, sem usar o modo de comutação por posição.
- Injete a peça normalmente.
- Durante o ciclo, observe no visor ou gráfico da máquina qual a posição final atingida pelo fuso no momento em que a peça fica completa, sem rechupe visível e sem rebarba.
Exemplo real:
- Curso total da máquina: 100 mm
- Após injetar normalmente, o fuso finaliza o ciclo de injeção em 22 mm
Isso indica que a peça está completamente cheia quando o fuso atinge 22 mm.
3. Divida o curso do fuso em zonas técnicas
Agora que você sabe o ponto onde a peça enche, divida o curso do fuso em zonas técnicas, de acordo com a função de cada etapa da injeção. Isso vai te ajudar a controlar a velocidade em cada parte e escolher a posição correta de troca para o recalque.
Exemplo prático: Curso total de 100 mm e peça enche aos 22 mm
Zona | Faixa (mm) | Função da zona |
---|---|---|
Zona 1 | 100 mm a 75 mm | Início da injeção, preenchimento dos canais e entradas |
Zona 2 | 75 mm a 30 mm | Preenchimento das cavidades principais com maior volume |
Zona 3 | 30 mm a 22 mm | Final do preenchimento, zona crítica para qualidade |
Zona de comutação | 22 mm | Ponto de troca para recalque |
Zona morta | 22 mm a 0 mm | Evitar usar; risco de compressão excessiva e rebarba |
Essa divisão ajuda a ajustar perfis de velocidade, ou seja, velocidades diferentes para cada zona. Por exemplo:
- Alta velocidade na Zona 1
- Velocidade média na Zona 2
- Velocidade baixa e controlada na Zona 3
4. Configure a posição de comutação com base na fração do curso
Com base no ponto identificado (22 mm), defina a posição de comutação na máquina. Esse valor será programado para que, ao atingir essa posição, o sistema mude automaticamente da fase de injeção (velocidade) para a fase de recalque (pressão).
Se sua máquina mostra valores em milímetros, programe 22 mm.
Se sua máquina mostra valores em porcentagem, use a seguinte fórmula:
% do curso = (posição de comutação ÷ curso total) × 100
Aplicando no exemplo:
% do curso = (22 ÷ 100) × 100 = 22%
Isso significa que a comutação deve ocorrer quando restarem 22% do curso, ou seja, aos 78% de avanço.
5. Teste variações ao redor da posição para refinar o ponto ideal
Depois de definir a posição de comutação inicial (ex: 22 mm), é essencial testar valores próximos para garantir que essa é realmente a melhor posição.
Faça testes com:
- 23 mm
- 22 mm
- 21 mm
Para cada posição testada, anote:
- Peso da peça
- Presença de rechupe
- Presença de rebarba
- Estabilidade da aparência
Monte uma tabela para análise:
Posição de comutação | Peso da peça (g) | Rechupe | Rebarba | Observação |
---|---|---|---|---|
23 mm | 52,5 | Sim | Não | Leve retração |
22 mm | 53,0 | Não | Não | Peça ideal |
21 mm | 53,6 | Não | Sim | Leve rebarba |
Neste caso, 22 mm é a posição ideal.
6. Evite usar a zona final do curso do fuso
A zona entre a posição de comutação e 0 mm é considerada uma zona morta ou zona de compressão extrema. Usar essa parte do curso pode causar:
- Rebarba
- Brilho indesejado na peça
- Queima por excesso de compactação do material
- Pressão interna desnecessária
Evite programar a comutação após a zona onde o molde já está cheio.
7. Salve o perfil e utilize para controle de qualidade e padronização
Uma vez que a posição ideal de comutação foi definida e validada, salve o perfil do ciclo:
- Curso total
- Posição de comutação
- Velocidades por zona
- Pressão e tempo de recalque
- Gráfico de posição x tempo
Essas informações são essenciais para manter a repetibilidade da produção, reduzir variações e treinar novos reguladores.
Conclusão
Controlar a injeção por posição exige domínio do comportamento do fuso e do molde. Ao dividir o curso do fuso em zonas funcionais e aplicar testes ao redor da posição de comutação, o regulador consegue alcançar o ponto ideal para troca da fase de injeção para o recalque, com base em dados técnicos e observações reais.
Esse controle refinado é o que separa o regulador comum do técnico especialista, capaz de dominar o processo e garantir estabilidade mesmo em peças complexas ou moldes exigentes.
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